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O cangaceiro da bola

  • Foto do escritor: Onda Esportiva
    Onda Esportiva
  • 6 de mai. de 2020
  • 2 min de leitura

por Glauco Keller



Há um site muito legal de nome causosdabola.com.br, comandado por um cronista que, como eu, ama as histórias que vão além das quatro linhas. Seu nome é Victor Kingma. Fuçando, como gosto de fazer, descobri uma história sensacional. Com vocês o Victor e o seu campeão do cangaço.

Invicta há vários anos, a equipe formada pelos jagunços bons de bola (e de peixeira) do agreste pernambucano era o orgulho do seu velho e temido presidente cangaceiro, figura lendária e temida em todo o nordeste. Nenhum time conseguia (ou ousava) derrotá-la. Afinal, os métodos empregados nem sempre eram muito esportivos. Muitas vezes, a peixeira substituía a bola em caso de dificuldades em alguma partida, para intimidar adversários e arbitragem.

Já velho e sem enxergar direito, o patrono do time não ia mais aos jogos. Todo domingo à tarde, ficava na fazenda, esperando a rapaziada para mais um churrasco de comemoração. Terminada cada partida, o foguetório, no caminho de volta, indicava ao “chefe” sobre mais uma vitória. Essa era a rotina dominical. Já se tornara folclore em toda a região.

Mas, naquele domingo, entretanto, alguma coisa errada tinha acontecido. O silêncio dominava o povoado e ninguém ouvia os gritos de euforia e o barulho dos foguetes, no caminho de volta.

Cabisbaixos, os atletas e o técnico iam se aproximando da fazenda, tendo à frente o capitão Carranca, um misto de zagueiro e cangaceiro, atleta muito conhecido na região, não pela habilidade que tinha com a bola, mas pela voracidade que atingia a canela dos adversários...

Na sacada da fazenda, impaciente, o velho cangaceiro ansiava por uma explicação:


- E aí? O que aconteceu?

- Perdemos, chefe! Desabafa desolado o truculento zagueiro. Com aquele juiz não tinha jeito.

- E que juiz ousou nos desafiar? Traga-o imediatamente até aqui!

- Melhor deixar pra lá, chefe.

- Quem é o juiz? Grita furibundo, já de pé sobre a sacada...

- LAMPIÃO, chefe!

O velho cartola cangaceiro coça o cavanhaque, tira o chapéu, e arremata:

- Pensando bem, “cabra macho” de verdade tem que saber a hora certa de perder...

- Vamos ao churrasco, pessoal!


Fogos de artifício foram ouvidos por toda a cidade.


*Texto publicado originalmente no Jornal Primeira Página em 3/6/2012

 
 
 

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