Artilheiro nunca atrasa
- Onda Esportiva
- 9 de abr. de 2020
- 2 min de leitura
por Glauco Keller

Foto: Reuters
Elba de Pádua Lima, o famoso Tim, ex-técnico do time do Coritiba, esperava pacientemente pela chegada do atacante Zé Roberto para dar início ao treinamento do time, visando mais um jogo importante pelo Campeonato Brasileiro. O polêmico jogador chegou mais ou menos uns 45 minutos depois de todos os demais integrantes do elenco. Os jogadores, visivelmente chateados, treinaram meio emburrados.
Ao final dos trabalhos, os jornalistas que cobriam o Coritiba cobraram do Tim uma posição a respeito do assunto:
-Tim, você não vai fazer nada contra o Zé Roberto, que chegou 45 minutos atrasados?
O Tim deu uma coçada na parte de trás do cabelo, olhou para o gramado e mandou, na bucha:
- O Zé Roberto, craque do meu time, atrasado? Você está enganado. Esses outros apressadinhos é que chegaram cedo demais pra trabalhar.
O início do Fair play
Garrincha, o maior ponta direita e, seguramente, um dos maiores jogadores da história, protagonizou, o que poucos sabem, um dos lances mais bonitos e que mais demonstram o espírito de desportividade e cavalheirismo em uma partida de futebol. Botafogo x Fluminense se enfrentavam no Maracanã, pelo torneio Rio - São Paulo de 1960. Aos 3 minutos do segundo tempo, o zagueiro Pinheiro, do Fluminense, ao disputar uma bola com o atacante Quarentinha, do alvinegro, sofreu uma séria contusão e caiu em campo. A bola, então, sobrou limpa na ponta direita para Garrincha, com a defesa tricolor toda desprotegida. Para surpresa de todos os presentes no estádio, o anjo das pernas tortas, com a ingenuidade e a genialidade que sempre o acompanharam dentro dos gramados, se negou a prosseguir com a jogada e tocou a bola para a lateral, para que o companheiro de profissão fosse atendido. Surpreendidos com aquele gesto tão bonito e até então inédito, os locutores e comentaristas presentes ao jogo, não sabiam o que dizer. O jornalista Mário Filho, eufórico, gritava da cabine: - É o Gandhi do futebol! É o Gandhi do futebol! E a beleza do gesto ainda não estava completa. O lateral Altair, do Fluminense, que em campo sempre travava batalhas memoráveis com Garrincha, ao repor a bola em jogo, jogou-a de propósito novamente para a lateral.
- Aquela bola não podia ser do seu time, disse.
A partir deste jogo, os jogadores brasileiros passaram a tomar a mesma atitude sempre que esta situação se repetia e foram sendo imitados pelo mundo afora. Surgia o fair play.
O jogo, até como prêmio à atitude dos dois jogadores, acabou empatado em 2 x 2.
*Texto publicado originalmente no Jornal Primeira Página em 3/10/10.
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